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Maior Glória é o anonimato

A Maior Glória é o Anonimato

A vaidade, na maioria das vezes, é um adjetivo utilizado com um sentido negativo. E nem sempre é assim. Nem sempre a vaidade é uma coisa ruim. Todos temos nossas vaidades. Alguns se preocupam mais com a aparência, outros com títulos e reconhecimento. Tudo bem. É de lei! Não precisamos ver isso como um pecado mortal. Devemos combater, isto sim, a vaidade exacerbada, aquela que é prima e irmã da arrogância e da soberba. Contra este tipo de vaidade devemos ter vigília. Ajudaria muito se tivéssemos consciência de uma coisa bem simples: Nada dura para sempre! Arrogância e soberba por uma situação atual? Bobagem! O tempo vai ensinar a humildade. Porque a vida é um bem precioso e muito efêmero, e ela não tem tempo nem paciência para vaidades e outras coisas pequenas.

Todos nós temos uma época da vida em que amamos a nós mesmos mais do que qualquer coisa no mundo. É a época do egocentrismo e do culto ao narcisismo. Isto também é felicidade, e é normal, desde que fique restrito a uma determinada época. Isto também é amor, claro. Vaidade também é gostar da gente. Mas existe, como falei, a vaidade dos arrogantes, dos que se julgam superiores, dos que se imaginam num pedestal eterno, dos que tolamente se imaginam reverenciados, dos que confundem bajulação com adoração. A esses, a vida vai ensinar que não somos nada, que esse pedestal é feito de pó e que toda a arrogância gasta foi em vão.

Não há uma receita própria para a maneira como devemos viver nossa vida. Mas se houvesse uma, ela seria mais ou menos assim (podem acreditar nisso): prestem mais atenção nas coisas que acontecem ao seu redor, nas pessoas, na necessidade dos infelizes e dos que sofrem, na borboleta amarela refletindo o brilho do sol sobre um roseiral! Prestem menos atenção na beleza do seu rosto e nos atos gloriosos que você praticou. E isso é tudo que há para dizer. Todo o resto não nos pertence. Todo o resto é apenas o correr de um rio. Não dá para entender porque muitas vezes somos tão vaidosos e arrogantes, quando temos uma vida tão efêmera e transitória. Não dá para entender porque nos envaidecemos tanto de nossas pálidas qualidades quando sabemos (ou deveríamos saber) que tudo passa muito rápido, e que seremos um dia esquecidos, e que tudo aquilo que considerávamos dignos de ser louvados por todos os demais no fundo era apenas soberba e vaidade tola. Deveríamos saber que nós não somos nada, que não significamos nada. E que só tomando consciência de que nada somos é que descobriremos o grande milagre que é a vida de cada um de nós.

Então, por falta de coisa mais nobre para falar, passo aqui apenas para tocar o terror e dizer que não somos nada além de mais um punhado de matéria! Passo hoje apenas para ser chato e dizer que não somos fundamentais e que todo o nosso ego e vaidade são construções feitas de pó e areia e que servem apenas para alimentar a si mesmos. Passo hoje apenas para ser desmancha prazeres e afirmar que não somos melhor que ninguém nesta face da terra e que, tal qual todo mundo, morreremos muito mais cedo do que seria nossa vontade; e o pior, a vida prosseguirá sem a gente! Passo apenas para falar das pequenas e tolas vaidades, e de como mais pequenas e mais tolas elas se tornam quando nos deparamos com a finitude da vida.

Ainda nessa toada, admiro-me do tanto de pessoas que procuram a todo custo seus 15 minutos de fama! Causa-me perplexidade o tanto de gente que daria qualquer coisa para ser famoso e viver sob holofotes. Acho sinceramente que essas pessoas não fazem a mínima ideia do que estão pedindo. Elas deveriam ter muito cuidado com aquilo que desejam! Não existe nada melhor que nossa privacidade. Não existe nada melhor do que ser um anônimo! Não existe nada melhor do que ser mais um na multidão! Não existe nada melhor do que caminhar por lugares desconhecidos, sentar em bares e cafés charmosos e flertar com seus próprios pensamentos, sem ser incomodado continuamente. Não existe nada melhor do que não ser famoso!

Não sei se falo isso tudo porque detesto ser o centro das atenções, detesto holofotes, detesto falar em público e detesto tudo que me coloque no centro de qualquer situação. Tive a possibilidade de ter meus 15 minutos de fama e fiquei bem escondido debaixo da cama, só saindo de lá quando os tais minutos de fama passaram adiante. Esses pretensos anos de glória aconteceram tempos atrás, quando meus primeiros romances despontaram na cena literária teresinense. Em 2003, meu primeiro romance (Socó dos Morros) ganhou da Fundação Cultural do Piauí o título de melhor romance do ano. Em 2004, com o conto “O Gás”, fui classificado em 1º lugar no Concurso Permínio Asfora de Literatura, ganhando o Prêmio Paulo Veras de Conto/Crônica. Este mesmo conto foi selecionado para participar de uma coletânea de contos e foi lançado pela AG editora, em São Paulo. Com os poemas “Solidão”, “Um Olhar” e “Bolhas de Sabão” participei de uma antologia poética lançada em Itajubá (MG). Em 2005, meu segundo romance (Memórias de Um Suicida) foi considerado o melhor romance pela Fundação Cultural Monsenhor Chaves. Em 2010 lancei o romance Somos Todos Velhas Fotografias, que ficou entre os 10 primeiros colocados no prêmio “Cruz e Sousa” de literatura, em um total de mais de 500 romances de todo o Brasil.

Ali era o meu momento! Era o momento de mostrar a cara! Assim diziam os profissionais encarregados de fazer o marketing dos meus livros. E o que eu fiz? Desejei boa sorte aos meus livros e deixei-os seguirem sozinhos, por sua conta e risco, nesta tumultuada estrada da fama. Porque sempre achei que os livros deveriam ser conhecidos, não os autores. Não há nada interessante em mim. Talvez haja em meus livros, não sei. Óbvio que eu mais atrapalhei do que ajudei meus pobres livros. Fui convidado para o palácio do Karnak para receber um cheque referente ao prêmio de melhor romance, entregue em mãos pelo governador, e eu era tão desconhecido que os repórteres me empurraram para que eu saísse da frente e eles pudessem tirar fotos e entrevistar o segundo lugar, que era um escritor famoso. Só depois que meu nome foi chamado no palco a imprensa olhou espantado para mim e ficou esperando eu descer para me entrevistar. Eu saí pelos fundos, obviamente, e no dia seguinte o nome do escritor que ficou em segundo lugar estava estampado em todos os jornais de nossa capital.

Outra: a Fundação Monsenhor Chaves, por volta do lançamento do meu romance Memórias de Um Suicida, resolveu marcar um evento onde eu deveria falar aos meus leitores sobre meu livro, minha carreira e o mais que eles quisessem saber. Eu simplesmente apaguei da memória este glorioso momento, e só lembrei quando recebi um telefone da nossa amiga Socorro Freitas, que com uma voz gelada me falou: “Oi Sérgio, estou aqui na palestra de divulgação do teu livro. Está ótimo! Muita gente por aqui. Só está faltando mesmo o autor! É por isso que tu nunca vai vender teus livros”! Para fechar os exemplos e pregar o último prego no caixão da minha fama, meu romance Somos Todos Velhas Fotografias participou da Bienal do livro de são Paulo. Participou sozinho, diga-se de passagem, já que eu nunca dei as caras. Enfim, continuo anônimo e desconhecido, do jeitinho que eu gosto.

Fechando então o parêntese que eu fiz para falar sobre o quanto eu sou estranho, e voltando ao tema da vaidade, digo em minha defesa apenas que nós todos vamos passar, e o mundo vai continuar do jeito que está: belo, injusto, feroz e indiferente à passagem do tempo e das pessoas! Nós vamos passar e a vida vai continuar sem a gente! O sol vai nascer no dia seguinte ao nosso desaparecimento, como que para mostrar que não somos nada, que somos apenas poeira no vento e que nossas vaidades e importâncias são coisas efêmeras que nós mesmos criamos para nosso próprio gozo. E por isso tudo vos digo: não há glória maior que o anonimato! E ser amado pelas pessoas que nos conhecem, apesar de nossas imperfeições e nossas excentricidades!

Sérgio Idelano

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