Audtcepi

Notícias

O Evangelho segundo Belchior

Esta crônica é para aqueles que preferem andar sozinhos a mal acompanhados. Para aqueles que preferem decidir a própria vida. Para aqueles que têm seguido a vida, caminhando seu próprio caminho, conversando com pessoas vez em quando, e ciente de que tudo na vida muda a qualquer momento. Para aqueles que sabem que a vida não é fácil como nas novelas, e que ao vivo, às vezes, é muito pior.

Esta crônica é somente para dizer que nosso lugar é onde a gente quer que ele seja, que não há mal algum em correr atrás do que nossa alma deseja e em ter pressa de viver. Sigamos em frente, e quando a vida nos violentar (e ela vai), peçamos ao bom Deus que nos ajude e que a vida nos pise devagar, por sermos frágeis, embora muitas vezes nos julguemos imbatíveis. Dizer que a solidão faz parte do caminho, assim como a pressa de viver, e que tudo bem deixar de lado a certeza vez em quando e arriscar tudo de novo com paixão. Andar o caminho errado pela simples alegria de ser, porque é somente errando que podemos aprender! Esta crônica passa por aqui também para dizer que se estamos vivos e com saúde podemos nos considerar uma pessoa de sorte, por nos sentirmos sãos, salvos e fortes. E mesmo quando levamos nossas cacetadas, podemos sempre renascer e pensar que não vamos sofrer como no passado, e que se este ano sofremos, vem por aí um outro ano, e nesse não sofreremos mais, nem sangraremos.

Esta crônica é para falar também que tudo na nossa vida passa muito rápido, e que se hoje somos jovens, amanhã não seremos mais, embora nunca nos acostumemos com a rapidez da passagem do tempo e sempre pensemos que parece que foi ontem nossa mocidade. E que cada fase é uma fase que podemos tirar proveito, e viver coisas novas, que também são boas. O amor e a alegria não tem prazo de validade, e não existe nada demais em procurá-los sempre, e querermos tudo outra vez. Porque enquanto houver espaço, corpo, tempo e algum modo de dizer não ou sim, a gente continua no jogo. Só assim podemos continuar vivos. Só assim, o tempo, as pessoas que amamos outrora e tudo o que vivemos no passado não nos causam tanta dor. É perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos caras. Nossos ídolos ainda são os mesmos e somente a aparência não é mais a mesma. Também não é proibido amar o passado, desde que saibamos e nunca esqueçamos que o novo sempre vem! Ir contra o novo, ir contra as mudanças, é bater contra um rochedo de cabeça.

Esta crônica é para falar também que tudo vale como experiência, que podemos aprender com os erros do passado, e que somente a noite fria pode nos ensinar verdadeiramente a amar mais o dia, e é só pela dor que descobrimos o verdadeiro poder da alegria. Porque todos passamos por momentos bons e momentos difíceis. A minha história é, talvez, igual a tua. Todos ficamos, em algum momento da nossa vida, desnorteados, desapontados, apaixonados e violentos (mesmo que esta violência seja contra nós mesmos). Porque se existe a alegria, existe também o tempo negro, que faz com todos o mal que sempre faz. O que importa é que deixemos a alegria sempre vencer dentro de nós! O importante é alimentar apenas as coisas boas.

Esta crônica, se não for pedir demais, vem alertar ainda sobre a necessidade de tratar bem as pessoas que merecem, as pessoas que nos amam e estão ao nosso lado. Não deixar que no centro da sala, diante da mesa, no fundo do prato, reste apenas comida e tristeza. Não deixar que cada um guarde o seu segredo e sua dor somente para si. Deixemos de coisas. Nunca saberemos quando de repente vai chegar a morte ou coisa parecida, nos arrastando antes que tenhamos tempo de quitar nossas dívidas. Tratar bem não somente as pessoas ao nosso lado, mas a humanidade no geral: uma pessoa sozinha, um pobre, os humilhados no parque com seus jornais e todas as pessoas cinzas normais (porque cinza nós às vezes também estamos). Amar e mudar as coisas! É disso que falo aqui! Amar e mudar as coisas

De resto, não deixar nunca ninguém nos impedir de ser feliz. Conhecer o nosso lugar! E, lembrar, o nosso lugar é onde a gente quer que seja! E isto podemos fazer por nós mesmos, independente de quão comuns nós somos. Porque a maioria de nós não passa de um cidadão comum, como esses que se vê na rua. Falamos de negócios, rimos, vivemos o dia e não o sol, a noite e não a lua. Acordamos cedo, embarcamos para o trabalho, somos, assim espero, aquela gente honesta, boa e comovida, que tem no fim da tarde a sensação da missão cumprida. Acreditamos em Deus e achamos que muitas vezes isto basta. A maioria de nós não passa de um cidadão comum, que um dia será levado desta para melhor. Mas que isto não nos impeça de ser feliz! Que isto não nos impeça! Que nossa esperança de jovens ainda esteja conosco, e que sigamos em frente sempre, livres e fazendo o destino com o suor de nossas mãos e nunca deixando a tristeza tomar conta de nós. A vida? A vida é sempre nova, acontecendo de surpresa e caindo como pedra sobre nós!

Esta crônica foi toda tecida através das letras das músicas do Belchior! Elas têm sempre algo a ensinar. Elas dão sempre motivos para pensar! Que 2024 nos seja leve!

Sérgio Idelano

Está gostando do conteúdo? Compartilhe.

Receba a nossa newsletter!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *