Por que somos tão passageiros? Por que somos tão efêmeros? Por que não somos imortais? Por que, como disse o incomparável Belchior, vivemos a cada dia a divina comédia humana, onde nada é eterno? Por que sofremos tanto, lutamos tanto, ansiamos tanto, fazemos tantos planos, se somos tão rápidos? Se nosso tempo é tão curto? Se nossa vela queima tão rapidamente? A eternidade, segundo um poema de Artur Rimbaud, é o mar misturado ao sol! Apenas o mar misturado ao sol é eterno! Todo o resto, toda nossa vida, e pretensões, e orgulhos, e falsos poderes, tudo isto é fugidio. Nossa vida é fugidia. Então por que tudo isso? Por que toda esta paixão, toda esta vontade de viver, toda esta vontade de ser eterno, se tudo vai durar tão pouco? Não sei bem a resposta para tanta pergunta, mas tenho um palpite: vivemos para eternizar as coisas importantes de nossa vida, mesmo que sejam passageiras! Temos como missão eternizar e petrificar esses momentos, tornando-os eternos, tornando-os dignos de valer a pena! Para isso vivemos, para eternizarmos momentos!
O que nos define é a finitude! Acabei de ler o maravilhoso livro Homem Comum, de Philip Roth, que conta a história de um homem que passa toda sua vida combatendo a morte e a velhice. No final, ele é derrotado, como os senhores podem imaginar. E não é isto que nós mesmos fazemos durante nossa vida? Combater a morte, a velhice, a decrepitude, a estúpida finitude de tudo? Não é isto que fazemos desde o momento em que tomamos consciência dela, a morte? Também todos nós somos subjugados no final, como os senhores também devem saber! Enfim, o livro é maravilhoso e fala da injusta batalha que empreendemos durante toda nossa curta existência. E para compensar este pouco tempo, vivemos todos nós como se fôssemos imortais. Nunca paramos para pensar na nossa própria morte, em como nossa existência aqui neste plano é efêmera, passageira, um nada. Vivemos todos como se fôssemos imortais. Como os imortais que gostaríamos de ser! E por que sonhamos tanto com a imortalidade? E por que temos tanto medo da morte? O que é a morte? É o fim de tudo? É apenas uma passagem? É o começo da vida eterna? É um processo simplesmente biológico sem significado algum? Não poderia opinar. Nunca morri antes. Ou morri e não me lembro. Mas a reflexão que quero trazer aqui é: a morte é um mal? É uma coisa ruim? Seríamos mais felizes se fôssemos imortais? Seríamos mais felizes se nunca morrêssemos? Será que veríamos o mundo como vemos hoje? Será que daríamos valor às pequenas coisas? Será que veríamos beleza no cotidiano, se este cotidiano fosse uma longa eternidade? Se tivéssemos tempo infinito?
Em suma, somos todos mortais, e nossa vida é muito mais curta do que desejaríamos. Mas quem de nós, em algum momento de devaneio, não sonhou um dia ser imortal, ou pelo menos viver alguns séculos por esta vida afora? Mas, faço novamente a pergunta, será que a imortalidade não iria cansar? Será que ser feliz em nosso curto período de tempo não deveria bastar? Não deveria ser nosso sonho de consumo? Melhor que ser imortal é tentar ser feliz neste tempo que nos foi destinado! A imortalidade? Esta fica para os guerreiros imortais da ficção. Ou quem sabe consigamos ela através de nossa alma (não sei, de religião não entendo nada)? Antes ser feliz do que imortal! Porque a imortalidade traria também a solidão, a partir do momento que nossa vida seria um constante despedir-se de todos aqueles que amamos. Sendo imortal, nossa vida seria um constante conhecer pessoas e um constante despedir-se delas. Enterraríamos nossos filhos e amigos sucessivamente. E isto se repetiria ad eternum. Quem caça a eternidade recolhe a solidão! Tirei este título de um livro chamado A Elegância do Ouriço. Quem caça a eternidade recolhe a solidão! Que nos conformemos com nosso tempo de vida e sejamos felizes da melhor forma possível! Esta é a verdadeira imortalidade…
Sérgio Idelano