Qual o cheiro do tempo? Qual sua aparência? Qual o som do tempo? Aliás, o tempo tem som, cheiro ou aparência? Como podemos dimensionar isso? Quem de nós já sentiu o cheiro do tempo? O som que ele faz? Segundo o escritor Ray Bradbury, nas suas extraordinárias crônicas marcianas, o tempo tem cheiro sim! E ele fala isso em um trecho delicioso do seu livro que vou transcrever aqui:
“Havia um cheiro de Tempo no ar. Ele sorriu e examinou essa fantasia na mente. Era uma ideia. Qual seria o cheiro do Tempo? Cheirava a poeira, a relógios e a pessoas. E se perguntasse qual seria o barulho do tempo, era como água correndo em uma caverna escura, vozes gritando, sujeira caindo pelas tampas das caixas vazias, e chuva. E, indo ainda mais longe, qual seria a aparência do tempo? O Tempo era como a neve pingando em silêncio em uma sala escura ou se parecia com um filme silencioso em um teatro antigo, cem bilhões de rostos caindo como aqueles balões de Ano Novo, caindo e caindo para o nada. Assim eram o cheiro, a aparência e o som do Tempo. E, naquela noite, Tomás esticou a mão para fora da caminhonete, para sentir o vento, naquela noite quase dava para tocar o Tempo”.
Eu concordo com o grande escritor! O tempo tem sim cheiro, som e aparência! E acho que para cada um de nós o tempo tem um cheiro, um som e um aspecto diferente. Para mim o tempo tem cheiro de castanha assando, de café saindo do fogo, de terra molhada e da colônia levemente floral impregnada no vestido de minha avó. Para mim o tempo tem o barulho de chuva no telhado, de ventania e de gargalhadas de amigos. Para mim o tempo tem aparência de manhã chuvosa, de encontros efêmeros, de bares e sorveterias extintos, de angústias e de imortalidade.
E para você, meu caro leitor? Qual o cheiro do tempo para você? Qual o som que ele faz? Como ele se apresenta para você?
*Dedico esta crônica ao León, meu primeiro neto que nasceu semana passada! O tempo tem para mim, de hoje em diante, mais um novo cheiro, mais um novo som…
Sérgio Idelano