[Os mais antigos, como eu, talvez lembrem que este era o nome de um bar da zona leste de Teresina, do começo da década de 90, se não me falha a memória! O nome dele sugeria uma janela para o futuro. O dono quis dizer que, anos depois, quando nada mais ali existisse, iríamos nos lembrar de um tempo em que fomos felizes! Ele tinha razão! Fomos muito felizes nos velhos bares e restaurantes do passado. Havia o Copo Vazio, o Trópicos, o Choppão, o Escândalo, o Nós e Elis e tantos outros! Talvez hoje existam bares mais sofisticados e modernos, mas é daqueles que tenho saudade! É inerente ao ser humano isso de ter saudades do que ficou para trás, escondido em algum canto da vida, às vezes colocado displicentemente debaixo de algum tapete. A saudade faz parte da vida. Só tem saudades quem já viveu, quem já amou, quem já vivenciou. Tenho saudade até dos perrengues e do amadorismo das coisas passadas. Lembro quando fui tirar a carteira de motorista. Na época não tinha esse negócio de autoescola e cada um que aprendesse por sua própria conta! Detalhe: nós podíamos levar nosso próprio carro para fazer o teste de direção. Como eu era meio filhinho de papai, eu já dirigia e ia de carro para o colégio desde cedo. Então, no dia de tirar a carteira, fomos eu e mais 5 colegas, todos para tirar a carteira no meu carro (na verdade no carro da minha mãe, um Ford Escort marrom). Fui o primeiro, fiz minha prova de direção e baliza, voltei ao Detran, passei para outro amigo, e assim por diante, até o último completar o ciclo. Impensável para os dias de hoje! E isso lá é coisa para ter saudades? Para mim é, oras!
Nós só podemos sentir falta do que vivemos! As coisas que deixam saudades são as coisas que nos fizeram felizes! Quem nunca aventurou não vai ter saudade de aventuras! Quem nunca deixou as pegadas em um terreno desconhecido jamais sentirá falta do formato dos pés! Pegue uma fotografia antiga, você que me lê agora, e reflita sobre o que você trouxe para aquele cara que te olha da moldura. Que tipo de vida você proporcionou para ele? Você tem saudades daquela pessoa? Espero que sim! Porque naquele momento você tinha um horizonte, uma vida pela frente, uma página em branco, a esperança em todo o seu esplendor! Espero que você tenha aproveitado isto e construído uma vida que valeu a pena ser vivida! Espero que você tenha saudades de cada uma das antigas fotografias. Só temos saudade do que vivemos! Não podemos inventar o que não vivemos.
Por isso tenho saudades também dessas coisas toscas. Tenho saudades das fichas telefônicas! Quando estávamos na rua e precisávamos falar com alguém, para tramar coisas reprováveis, por exemplo, comprávamos várias fichas e ficávamos lá, tramando a vida enquanto as fichas caíam, uma após outra, em uma velocidade incrível! E esta saudade passa também pela ausência do celular, pela invisibilidade que nós tínhamos, pela impossibilidade de sermos encontrados, se assim quiséssemos (e geralmente não queríamos ser encontrados). Todo mundo tinha o telefone fixo dos amigos e namoradas, e nos finais de semana eram repetidas ligações, para combinar as saídas. Lembro que eu tinha uma namorada chamada Áurea, e resolvi um dia dar o bolo nela e sair com os amigos. Então pedi a minha mãe que se alguém ligasse, ela por favor dissesse que eu estava dormindo. Pois a Áurea ligou, minha mãe falou o que eu pedi, e minha namorada disse para minha mãe que não acreditava nessa história de eu estar dormindo em plena sexta-feira meia noite. Minha mãe, cuja paciência nunca foi seu forte, falou: “É claro que ele não está dormindo! Ele saiu pra farra! Agora vê se procura um namorado melhor e não enche meu saco”! Perdi a namorada e ainda levei um esporro da minha mãe quando eu cheguei.
A vida é feita de saudades. Sempre há algo que nos deixou saudade: um momento, alguém, um lugar ou um tempo diferente do que nós estamos hoje. Muitas vezes temos saudade de nós mesmos. De alguém que fomos e já não somos mais. De algo que não temos mais hoje, como por exemplo a ausência de cinemas! E isso é motivo de saudades? Pois é, não deveria ser, mas eu tenho saudade sim! Só havia o Rex e o Royal, e depois veio também o Centro de Convenções e o Baloon Center! Eram pouquíssimos filmes que estreavam, de forma que tudo era um evento. Não interessava se o filme em questão era Baratas Assassinas ou Fuga Para a Vitória! O que importava era que havia um cinema, e havia amigos e paqueras, e a vida era excelente! Mesma coisa com as músicas lentas. Nas festinhas, havia a sequencia de músicas lentas, e quando ela chegava todo mundo já tinha feito seu reconhecimento e já sabia com quase absoluta certeza onde ia amarrar seu burro. Era batata! Sempre que você ia dançar de rosto coladinho com uma pessoa, esta pessoa já estava na sua! Aquela dança era decorrente de uma prévia negociação, de uma prévia troca de olhares e impressões! Facilitava muito! Fico pensando como os jovens pegam alguém hoje em dia nas festinhas, ao som de Só Surubinha e Caneta Azul? Bom, eles pegam. Os jovens sempre dão um jeito de se pegarem. Mas eu tenho saudade do jeito como era.
Tenho saudades de muitas outras coisas daqueles tempos: das ruas desertas, dos trailers sórdidos onde comíamos hambúrguer depois das farras, o dia já despontando no horizonte, das amizades descomplicadas, das paqueras e namoros efêmeros, e das chuvas de natal! Porque chovia muito em dezembro antigamente! E o período de natal era sinônimo de chuva, tempo cinzento e friozinho! Tenho muita saudade desse tipo de natal! E de tantas outras coisas tolas que hoje passam por minha cabeça! Tipo, será que o cachorro quente da Lobrás, seguido da Banana Split, não é um truque da minha memória? Será que a bomba servida na Marjé Lanches era mesmo um manjar dos deuses, ou minha memória falha? E as ruas vazias do Jockey, que explorávamos com nossas bicicletas Caloi e Monark, eram mesmo cercadas por matas virgens e solidão? E os clubes sociais estavam mesmo sempre cheios e efervescentes? E andar nas calçadas à noite era mesmo seguro?
Termino esta crônica nostálgica propondo um brinde ao que passou! Um brinde ao passado, porque ele ajudou a tecer nosso presente! Um brinde às peças antigas do nosso quebra-cabeça, afinal eles são essenciais para a juntada de novas peças. Um brinde aos momentos que passaram, às dores que sentimos, às alegrias que vivenciamos, aos amores que partiram, aos lugares por que passamos, às gargalhadas que demos (e que às vezes, em momentos de tristeza, surgem em nossa mente como ecos de tempos melhores) e aos pores do sol que assistimos. Tudo isso, podem acreditar, foi essencial para construir a pessoa que somos hoje.
Sérgio Idelano