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De que maneira vemos a vida?

Na porta do supermercado que fica perto de minha casa, sempre vejo uma senhora muito velha vendendo panos de prato. Sério, ela não tem menos que 120 anos! É toda enrugada, corcunda e anda com a ajuda de uma bengala enorme. Às vezes, compro um pano para ajudar e tiro alguma brincadeira. Ela, apesar da idade, é muito lúcida e sempre responde meus gracejos. Um dia perguntei se ela ainda tinha vontade de viver ou se já estava meio cansada da humanidade. Ela disse para mim que, se Deus permitir, ainda queria viver muitos anos. Muitos anos! Ela quer viver muitos anos! Ela, que tem uma vida humilde e monótona e que, se duvidar, nunca saiu de nossa cidade. Ela, que anda encurvada e tem uma cara destruída pela velhice.

Enquanto isso muitos de nós reclamamos da vida, mesmo tendo tudo o que se pode desejar para uma boa vida: juventude, boas condições financeiras e um teto sobre nossa cabeça. Muitos de nós reclamamos até de pequenas bobagens, coisas do cotidiano. O trânsito que está insuportável, o calor que está maltratando, o trabalho que anda estressante (e notem que o fato de ter um trabalho deveria ser um motivo de júbilo) ou a vida que anda entediante. Como se fôssemos eternos! Como se tivéssemos uma vida longuíssima! Como se pudéssemos nos dar ao luxo de se entediar, com tão pouco tempo de vida, com tanto por fazer! Perdemos tempo reclamando e quando menos se espera a eternidade vem tomar aquilo que lhe pertence, o universo joga na nossa cara o quão insignificantes nós somos, o quão efêmeras são nossas vidas, o quão rápido nós passamos por aqui. Perdemos tempo reclamando com tão pouco tempo para amar, sofrer, sorrir e nos submeter ao inconstante balé da vida. Perdemos tempo reclamando ao invés de nos defrontar com o milagre que é viver.

Não há tempo para reclamações! Há muito a fazer ainda! Temos uma estrada a percorrer, primaveras a vivenciar e missões a cumprir até o momento em que chegue nossa própria estação. Tudo bem, as coisas nem sempre são fáceis, e às vezes tudo o que enxergamos ao nosso redor são nuvens cinzentas e tempestuosas. Mas a realidade está à nossa volta e temos que lidar com isto e lutar, se não por outro motivo, pelo mais importante de todos, a vida! Vale a pena viver e ser feliz. A vida é um milagre e vivenciamos este milagre a cada dia. O futuro é incerto e o final está sempre próximo! Este deve ser nosso mantra toda manhã. E este mantra deve nos motivar a fazer coisas boas e a sermo pessoas melhores. O futuro é incerto e o final está sempre próximo! Não devíamos perder tempo reclamando da vida. O fim está sempre próximo! Acordemos pela manhã e respiremos o ar puro na janela, liguemos para pessoas queridas, ajudemos o próximo que está ao nosso lado, abramos uma cerveja ou um bom vinho, comamos aquela comida que temos vontade, assistamos a um bom filme, tomemos um café coado na hora, façamos amor com alguém que amemos, subamos em um pé de árvore e colhamos uma fruta do pé, vamos ver o mar, vamos ao campo, subamos uma montanha, trabalhemos com a alegria de quem tem um emprego no meio de tantos que não tem, leiamos um bom livro, abracemos nossos filhos e nossos pais, se ainda os temos, e sintamos o grande milagre de estar vivo! O futuro é incerto e o final está sempre próximo!

E você, que está de bobeira lendo esta crônica? Como recebe mais um dia que bate à sua porta? Um dia cheio de incertezas, é verdade, mas, ao mesmo tempo, cheio de fragmentos de vida a serem vivenciados. A vida está aí e ela é da cor que a enxergamos. Alguns preferem ver a vida como um estorvo, um sofrimento infindável, um fardo. Outros preferem vê-la como um milagre, um mistério prazeroso, uma experiência enriquecedora. Como a velha dos panos de prato. De que maneira você vê o mundo?

Sérgio Idelano

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