Queria falar um pouco aqui sobre os desafios da vida e a estrada que percorremos. E queria usar um rio de forte correnteza e suas duas margens como exemplo. Começamos do lado de cá da margem, atravessamos este largo e turbulento rio e chegamos do lado de lá da margem. Do lado de cá está o começo de tudo: a infância, a dependência dos pais, os conflitos e a irresponsabilidade da adolescência, os primeiros amores, a vida adulta que começa, o primeiro emprego, a criação dos filhos ainda pequenos, o começo de tudo que está por vir. E do lado de lá estão os obstáculos já vencidos: a maturidade dos amores, os filhos já criados, a carreira estabilizada e a experiência de quem já nadou muito.
Do lado de lá está a premiação após a correnteza vencida! Do lado de lá está o descanso merecido! E isto é bom, em tese. Isto é bom, desde que saibamos como lidar com a segunda margem, e nem sempre é fácil. Estamos preparados para a maturidade dos amores? Estamos preparados para colher juntos os frutos que plantamos? Estamos preparados para trazer o amor junto na bagagem, protegido do cotidiano e de outras distrações ao longo da travessia? Estamos preparados para os filhos já criados, e independentes, e donos de sua própria vida? Estamos preparados para curtir a aposentadoria? Estamos preparados para a velhice e todas as duras questões relacionadas a ela?
Trouxemos conosco, lá da primeira margem, nossos sonhos, o brilho no nosso olhar, a emoção e a ansiedade pelo dia de amanhã? Trouxemos da outra margem o tesão pela vida, o amor como na primeira vez, a sede que nunca deve passar? Trouxemos da primeira margem um pouco da criança que fomos e, por que não dizer, um pouco de nossa pureza e irresponsabilidade? É bom que sim, meus amigos, é bom que sim! O maior desafio de todos não está na travessia. O maior desafio está na segunda margem do rio, bem depois da correnteza forte das águas.
Por isso tudo eu sou mais tranquilo hoje, agora que já consigo enxergar mais de perto a segunda margem. Por isso tudo eu tentei trazer junto, na correnteza, coisas que eu não poderia deixar pra trás. Por isso tudo eu entendo os erros de quem ainda está na primeira margem. Eu já estive lá!
Sérgio Idelano