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Amigo é coisa pra se guardar!

Recebo de vez em quando uma ligação ou uma mensagem de um amigo do meu tempo de infância e adolescência. Isto sempre me faz bem. Andamos muitas vezes correndo contra o tempo e esquecemos às vezes de ligar para os velhos amigos. Amizades sinceras são das coisas mais importantes que temos nessa nossa breve passagem por este mundo. Aliás, amizades sempre são sinceras. Se não é sincera, não é amizade. Tenho bons amigos que tem estado ao meu lado uma vida toda. Tenho bons amigos que surgiram mais recentemente. Tenho bons amigos aqui neste local de trabalho que me são essenciais! Tenho bons amigos! Não tantos, mas suficientes. Meus amigos continuam meus amigos apesar de tudo o que às vezes eu sou. Apesar de meu sarcasmo, de minha beligerância em certos momentos, de minha acomodação, de meu distanciamento e até da minha indiferença. De um amigo ninguém se livra fácil, e meus amigos sabem que sou o que sou e que eu amo eles de qualquer forma. E quando nos encontramos é como se fosse ontem o que às vezes são anos. 

Meu escritor preferido, Gabriel García Márquez, costumava dizer que não pensava na morte, e sim na vida, que esta era o que importava. E em um conto seu ele narra sua morte sobre sua própria ótica. No conto, ele assiste todo o seu velório e enterro e, ao final, quando todos saíam do cemitério e ele tentou acompanhar seus amigos, viu que não podia fazer isso. Então encerra o conto com a seguinte frase: “Só então compreendi que morrer é não estar nunca mais com os amigos”. É por isso que precisamos aproveitar ao máximo as pessoas que realmente amamos, enquanto ainda estamos neste plano aqui. Disponibilizar um pouquinho mais de tempo para os que merecem nosso amor, ter um pouco menos de pressa, quem sabe um pouco mais de paciência. Assim, quem sabe, quando a morte finalmente vier ao nosso encontro, não nos encontre devendo um abraço, um beijo ou um dedo de prosa com ninguém que amamos.

Ouvimos muito (e nós mesmos falamos muito) a célebre frase: “No meu tempo é que era bom. Ali as pessoas eram felizes”! Somos mesmo tão privilegiados para nascermos em um tempo em que as coisas eram mágicas e felizes? Ou tudo é apenas uma questão de juventude? Ou tudo apenas é uma questão de se retratrar uma época em que tínhamos mais sonhos e menos preocupações? Pergunto e já respondo: a opção 2, sem dúvida! O melhor tempo era aquele em que havia dias enormes, preenchidos por bobagens que nos eram tão caras. O melhor tempo era aquele em que os amigos eram mais fáceis de encontrar, em que as meninas (e meninos) estavam tomando sorvete na esquina, e a esquina era na verdade o mundo. O melhor tempo era aquele em que éramos jovens, bonitos e tínhamos toda uma vida ainda pela frente antes de descobrir que a gente também envelheceria um dia, e que os sonhos, estes também podem morrer. A Estrada Me Chama é o nome de uma belíssima canção do Zeca Baleiro. Ela fala sobre esperança. Ela fala sobre tempos felizes, quando os amigos estão por perto e a vida ainda é um lugar de calor e canção! Ela fala talvez de aproveitar os amigos, porque estes amigos são muitas vezes fugidios e tem a triste tendência de se perder no caminho. Ela fala talvez de aproveitar os momentos realmente felizes, as gargalhadas, as pequenas irresponsabilidades, uma roda alegre e o futuro despreocupado. Ela fala talvez sobre momentos que deixamos escorrer pelos dedos, sem saber que nada é eterno, sem saber que tudo passa e que se não preservamos resquícios desses tempos frondosos eles farão muito falta um dia. Ela fala sobre coisas que deveriam ser simples de se entender. Então, por que é tão difícil? Ainda divagando sobre música, me vem à cabeça a extraordinária música do Toquinho, À Sombra de um Jatobá. Amo esta música. Para mim, ela representa tudo o que penso acerca da vida. E ela começa assim:

“Ter meus amigos comigo

quem amo me amando, sim

longe do amor de quem nos finge amar”.

E ela termina assim:

“Longe de mim a inveja e a maldade escondidas na vida

Hoje estamos nós em cena e não há tempo a perder

pois tudo acaba mesmo sempre em despedida”.

Então é isso! Porque um dia tudo acaba mesmo sempre em despedida é que hoje quero brindar à amizade! À amizade sincera, desinteressada, genuína. À amizade da qual não se espera nada em troca. Amigos não se constroem de uma hora para outra. Amizades requerem tempo, conhecimento, troca de aura. Amizades requerem momentos difíceis, para que possam ser testadas. Amizades precisam de tempos de vacas magras. Amizades de verdade não se fragilizam com a distância física. Amizades de verdade não precisam ser testadas! Um amigo de verdade não tem ciúme de outros amigos de seu amigo. Ele sabe que sua amizade é sólida. Um brinde, então, a todos os meus amigos! E no ato de brindar, encerro com uma frase do escritor italiano Luciano de Crescenzo: “Para se fazer um amigo, leva-se quase uma vida inteira. É preciso terem sido pobres juntos e, às vezes, felizes”.

Sérgio Idelano

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