A maioria das pessoas deve ter lido o belíssimo Um Conto de Natal, de Charles Dickens! Se não leu, com certeza assistiu à maravilhosa versão da Disney, repetida ano após ano por ocasião do período de natal e que eu nunca consegui enjoar! Ele fala da triste história de Ebenezer Scrooge, um homem avarento e solitário que odeia o Natal e tudo o que ele representa, e não sabe o que é compaixão. Até que a aparição do fantasma de seu ex sócio o faz repensar seu comportamento e desperta sentimentos aparentemente adormecidos. O que Dickens quer dizer, e ele está certo, é que tudo o que fazemos gera consequências bem mais amplas do que pensamos. Tudo está interligado. Todo ato nosso, bom ou mal, gera uma reação, bem maior e mais abrangente do que supõe nossa vã filosofia. O que produzimos aqui terá efeito em algum outro lugar, com algum outro ser humano.
Quando somos jovens pensamos que ainda temos tempo de sobra e que podemos nos dar ao luxo de saber que o tempo nunca vai passar e que podemos brincar com a vida. Pensamos que podemos desperdiçar o tempo e fazer loucuras, e que podemos congelar sorrisos, esconder lágrimas e não se preocupar com as consequências de nossos atos. Afinal, ainda temos 20 anos, e ainda há tempo para tudo, até para o perdão e o arrependimento! Mas, e quando as folhas caírem e o calendário seguir em frente? Quais as consequências dos atos que praticamos no passado? E se nossos atos feriram alguém e trouxeram tristeza e infelicidade? E se magoamos pessoas? E se prejudicamos a nós mesmos de maneira definitiva?
É errado pensar (e eu já pensei) que, se só vivemos uma vez, por que não fechar os olhos e agir sem pensar nas consequências, não é mesmo? Por que não usufruir da liberdade absoluta e irrestrita? Afinal, se só se vive uma vez, por que não agir apenas pelo instinto? Mas, e sempre tem um mas, e se o preço for alto demais? E se descobrirmos isso tarde demais? A vida nos ensina que para tudo há um preço, e este preço está embutido nas correntes que vamos acumulando ao longo da vida.
E o que eu quero dizer com tudo isso? Apenas que somos responsáveis por nossos atos. Apenas que carregamos as consequências de tudo aquilo que fazemos em nossa vida. Apenas que colhemos o que efetivamente plantamos! Apenas que teremos que arrastar nossas próprias correntes! Com a palavra, Ebenezer Scrooge:
“Trago a corrente que forjei na vida…
Eu a criei, elo por elo, metro a metro;
Prendi-me por minha livre vontade,
e por minha livre vontade a tenho usado”.
Sérgio Idelano